"Um universo inteiro cabe dentro de um grão de areia..."

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Oh Chuva! Eu peço que caia devagar...

 

Se me permitem, faço minhas as palavras cantadas por Luiz Gonzaga...


Oh! Deus, perdoe este pobre coitado
Que de joelhos rezou um bocado
Pedindo pra chuva cair sem parar!
Oh! Deus, será que o senhor se zangou
E só por isso o sol arretirou
Fazendo cair toda a chuva que há?
Senhor, eu pedi para o sol se esconder um tiquinho
Pedir pra chover, mas chover de mansinho
Pra ver se nascia uma planta no chão
Oh! Deus, se eu não rezei direito o Senhor me perdoe,
Eu acho que a culpa foi
Desse pobre que nem sabe fazer oração
Meu Deus, perdoe eu encher os meus olhos de água
E ter-lhe pedido cheinho de mágoa
Pro sol inclemente se arretirar
Desculpe eu pedir a toda hora pra chegar o inverno
Desculpe eu pedir para acabar com o inferno
Que sempre queimou o meu Ceará

[Súplica Cearense, Gordurinha e Nelinho]





Diria eu, uma súplica Nordestina...

Anne Barreto
30/06/10

sexta-feira, 18 de junho de 2010

José Saramago: Nunca Cego e Sempre Lúcido...




 Na ilha por vezes habitada
"Na ilha por vezes habitada do que somos, há noites,
manhãs e madrugadas em que não precisamos de
morrer.
Então sabemos tudo do que foi e será.
O mundo aparece explicado definitivamente e entra
em nós uma grande serenidade, e dizem-se as
palavras que a significam.
Levantamos um punhado de terra e apertamo-la nas
mãos.
Com doçura.
Aí se contém toda a verdade suportável: o contorno, a
vontade e os limites.
Podemos então dizer que somos livres, com a paz e o
sorriso de quem se reconhece e viajou à roda do
mundo infatigável, porque mordeu a alma até aos
ossos dela.
Libertemos devagar a terra onde acontecem milagres
como a água, a pedra e a raiz.
Cada um de nós é por enquanto a vida."
Isso nos baste.
[José Saramago]



      Há muito não sentia tanto pela morte de um intelectual ilustre e famoso...
      Para completar a estranheza que amanheceu meu dia, acabei de saber da partida de José Saramago, escritor, argumentista, jornalista, dramaturgo, contista, romancista e poeta português, que se não for o que mais gosto está entre os "mais mais" para mim!
      Literato de grande, forte e importantíssimo discurso político-ideológico, que conseguiu expressar através de palavras, que muitos criticam por "n" motivos, entre eles, pela sua forma própria de escrita. Eu particularmente, não tenho do que reclamar. O jeito Saramago de escrever prende minha atenção num livro por mais tempo. O único escritor da língua portuguesa que ganhou um prêmio Nobel.
      Nos Ensaio Sobre a Lucidez, Ensaio Sobre a Cegueira e Intermitências da Morte denuncia um complexo conjunto de características, boas e ruins, presentes na contemporaneidade. Porém, o faz de forma não tão clara e compreensível para quem não quer enxergar as mazelas da modernidade.
      É incrível como numa só passagem do livro Ensaio Sobre a Cegueira, escrito em  1995,  Saramago consegue descrever tão detalhadamente uma situação degradante e chocante que tem se repetido muito constantemente nos quatro cantos do mundo, e que Fernando Meirelles consegue representar tão bem em uma cena do filme homônimo, baseado na obra supracitada. Esta cena foi vista na vida real no caos e devastação ocorridos no Haiti, Angra dos Reis e outros muitos lugares do mundo, e que o homem insiste em dizer que foi tudo culpa da natureza, por não querer enxergar a realidade dos fatos e assumir seu tão grande erro, esconder-se atrás de uma cegueira branca. Saques a supermercados, lojas, casas invadidas, etc. Quem leu o livro e/ou viu o filme entenderá bem o que estou falando. Interessante ressaltar que esta cena no filme foi gravada na cidade de São Paulo, em meio à sua eterna e caótica "Selva de Pedras".
      É um livro que vale muito a pena ler, assim como se deleitar com o filme, que o próprio Saramago, de início era contra as gravações, mas depois que viu o resultado mostrou-se maravilhado com o trabalho de Meirelles e sua incrível capacidade de representar tão bem uma obra literária através da 7ª Arte. Eu, particularmente, não sou muito fã de filmes baseados em livros, porém, este realmente é, para mim, o melhor e mais bem detalhado. Já no Ensaio Sobre a Lucidez a leitura que fiz foi sobre política e poder. Assunto que dá muito "pano pra manga".


"Há coisas que nunca se poderão explicar por palavras."
[José Saramago]

      Das obras literárias não-espíritas que li as de Saramago estão entre as 20 mais, junto com Dom Casmurro, O Pequeno Príncipe, O mundo de Sofia, Cem anos de Solidão, Memórias Póstumas de Brás Cubas, O Primo Basílio, Senhora, Equador, Vítimas Algozes, Viva o Povo Brasileiro, O Alienista, O Caderno Rosa de Lori Lamby, entre outras, ah, e as "Alices de Carroll", é claro.
      De Saramago li Ensaio Sobre a Cegueira, Ensaio Sobre a Lucidez, Intermitências da Morte, O Evangelho Segundo Jesus Cristo, mas pretendo ler e ter toda a sua produção. Já comecei! Já tenho O Homem Duplicado (2002), faltam só os outros 16 romances: 
    * Terra do Pecado, 1947
    * Manual de Pintura e Caligrafia, 1977
    * Levantado do Chão, 1980
    * Memorial do Convento, 1982
    * O Ano da Morte de Ricardo Reis, 1984
    * A Jangada de Pedra, 1986
    * História do Cerco de Lisboa, 1989
    * O Evangelho Segundo Jesus Cristo, 1991
    * Ensaio Sobre a Cegueira, 1995
    * Todos os Nomes, 1997
    * A Caverna, 2000
    * Ensaio Sobre a Lucidez, 2004
    * As Intermitências da Morte, 2005
    * A Viagem do Elefante, 2008
    * Caim, 2009

5 Peças teatrais:
    * A Noite
    * Que Farei com Este Livro?
    * A Segunda Vida de Francisco de Assis
    * In Nomine Dei
    * Don Giovanni ou O Dissoluto Absolvido

3 livros de Contos:
    * Objecto Quase, 1978
    * Poética dos Cinco Sentidos - O Ouvido, 1979
    * O Conto da Ilha Desconhecida, 1997

3 livros de Poemas:
    * Os Poemas Possíveis, 1966
    * Provavelmente Alegria, 1970
    * O Ano de 1993, 1975
 
4 de Crônicas:
    * Deste Mundo e do Outro, 1971
    * A Bagagem do Viajante, 1973
    * As Opiniões que o DL Teve, 1974
    * Os Apontamentos, 1977

Seus Diários e Memórias:
    * Cadernos de Lanzarote (I-V), 1994
    * As Pequenas Memórias, 2006

Relatos de Viagens:
    * Viagem a Portugal, 1981

E por fim sua obra Infantil:
    * A Maior Flor do Mundo, 2001

      A partir desta última foi feito este curta de animação, de Juan Pablo Etcheverry, com a qual venceu o Anchorage International Film Festival no Alaska, melhor filme de animação no Festival Contraplano 08 em Segovia, Melhor Argumento no Chicago Short Film Festival, melhor curta-metragem de ficção ou de animação no Festival Internacional de Cine Ecológico e Natureza de Canarias, Melhor Curta-Metragem Espanhola por votação do público infantil, entre outros.


Muito bom!








Poema à boca fechada

"Não direi:
Que o silêncio me sufoca e amordaça.
Calado estou, calado ficarei,
Pois que a língua que falo é de outra raça.

Palavras consumidas se acumulam,
Se represam, cisterna de águas mortas,
Ácidas mágoas em limos transformadas,
Vaza de fundo em que há raízes tortas.

Não direi:
Que nem sequer o esforço de as dizer merecem,
Palavras que não digam quanto sei
Neste retiro em que me não conhecem.

Nem só lodos se arrastam, nem só lamas,
Nem só animais bóiam, mortos, medos,
Túrgidos frutos em cachos se entrelaçam
No negro poço de onde sobem dedos.

Só direi,
Crispadamente recolhido e mudo,
Que quem se cala quando me calei
Não poderá morrer sem dizer tudo."

[José Saramago]




José de Sousa Saramago
* 16/11/1922
+ 18/06/2010



"Todos sabemos que cada dia que nasce é o primeiro para uns e será o último para outros e que, para a maioria, é só um dia mais."
[José Saramago]


Fontes: Site oficial de Saramago, Site Oficial do Filme Ensaio Sobre a Cegueira e Blog Pensador





Anne Barreto
18/06/2010


segunda-feira, 14 de junho de 2010

Mas "como"?!?!



Passei tantos dias com ideias várias para escrever aqui, porém, de quarta passada para cá, penso muito, entretanto não consigo me expressar...
As ideias surgiram ainda mais depois de ter participado de minicursos de Redução de Danos e Cultura Greco-Romana, e assistido ao filme Transpotting.Sem contar com minhas reflexões internas...

Porém, realmente acredito que meu melhor potencial de expressão é a fotografia. É uma pena que eu não possa fazê-la a todo momento.
Penso então que sempre que tiver vontade de dizer algo postarei uma foto tirada por mim em momentos quaisquer e comentarei sobre ela, quem sabe assim não conseguirei falar um pouco do que estou sentindo. Estou mesmo precisando falar... só ainda não descobri como... [suspiro...]

Desconheço o como.
Porém já sei "o que", "o quando" e "o onde".
Acho que já tenho boa parte do caminho andando.



Anne Barreto
14/06/2010

terça-feira, 8 de junho de 2010

Alice in Wonderland (1903)

...

Ontem, enquanto dava uma olhada nos meus posts anteriores, percebi que não havia postado nada, ainda, sobre Alice. Apenas pequenas citações de trechos de músicas do filme de Tim Burton (o qual estava desesperadamente me segurando para não fazer o backup, entretanto, eis que surge um Ser que diz já tê-lo, e em boa qualidade... já era, vou assistir! Já que não deu em 3-D agora, deixa pra outra hora...)
Incrível, não acha Teacher?!
Ou melhor, Sr. Alguém!! ;]

Pois bem! Vamos ao primeiro!
Porém, nesse, ainda não farei nenhuma reflexão ou comentário pessoal, apenas compartilho o primeiro vídeo gravado baseado em Alice in Wonderland (1866), de Lewis Carroll.

Segundo descrição do vídeo no YouTube, essa é a primeira versão filmada do conto Carroll, que foi restaurada 100 anos depois pelo BFI National Archive a partir de materiais severamente danificados.
Foi gravado
37 anos depois do lançamento da história e quando o cinema tinha apenas 8 anos de existência. Os diretores Cecil Hepworth e Percy Stow se basearam nos desenhos originais de John Tenniel, presentes desde a primeira edição de Alice.
Participaram das gravações o próprio
Hepworth
(Frog Footman) e sua esposa (Red Queen), e ainda o pequeno felino da família (Cheshire Cat). [Adorei essa parte!! O Gato mais original de todas as versões! rs. =P]

Esse foi o maior filme produzido na Inglaterra naquele período (1903). Ao todo foram 12 minutos, porém apenas pouco mais de 8 minutos foram recuperados nessa restauração, a primeira feita com as cores originais do filme em mais de 100 anos.
A restauração foi feita por
Headley Trust e Pilgrim Trust.

Para saber mais sobre o filme clique aqui.


Bom deleite!
;)





Um close para The Cheshire Cat!



Anne Barreto
07/06/2010

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Super Xuxa contra o Baixo-Astral (Potencialmente reflexivo!)



Posto aqui, um texto que não é meu, mas vale a pena conferir!!
Texto grande mas... Riquíssimo!!

Super Xuxa contra o Baixo-Astral!
(Link para o texto)

Fonte: Blog Guerra de Pipoca
Autoria: Eduardo Cidade




"Você nunca viu uma lagarta cigana?!" 

...

"Eu vou pra Maracangalha, eu vou..."

A Vereadora Antropófaga...

(Cores de) Almodóvar!




Curta curtas!
Esse é fantástico.
Em apenas 7min31seg ele consegue abordar temas como transgressão, em Foucault, desejo, em Freud, feminismo, sexo e política num mesmo contexto.
Dá muito "pano pra manga", como diz o outro.
Lembrei bastante das minhas aula de Psicologia Cognitiva, de Processos Psicológicos (2008.1 e 2008.2), falando sobre as fases do sono e sobre sonho.
Lembrei também das aulas, essas mais recentes, de Técnicas em Avaliação Psicológica II (2010.1), quando falamos sobre o mal estar na civilização, Freud outra vez.
Assim como das inúmeras e sempre ricas discussões de gênero em Psicologia Social (desde o começo do curso, principalmente na disciplina de Processos Psicossociais e mais recentemente, nas rodas e reuniões da ABRAPSO).
Psicanálise, Saúde Mental, Antropologia e Aspectos Sócio-Antropológicos do Uso de Substâncias Psicoativas, etc, etc, etc.
Ah, tem também as incontáveis discussões sobre filmes, momentos CinePsi e agora, grupo de estudo, CineClub. Cores de Almodóvar. Incríveis!

Sem esquecer, é claro, do bate-papo entre amigos...

Bom, isso é um resumo da quantidade de ideias que passou por minha cabeça nesses pouco mais de 7 minutos. Isso porque eu vi o vídeo apenas uma vez.
Quem sabe quando assistir mais uma vez não focarei em um tema apenas... ou... encontrarei mais...


...


"Que diferença faz comer os pé de um porco ou de um homem?

"Porque não há nada mais democrático do que o prazer!

"Estou farta de tudo. Dos homens, das dietas, dos colágenos, da lipoaspiração, da política. De tudo, menos de sexo.

"Sou conselheira de assuntos sociais e tanto a nível pessoal quanto a nível profissional, eu acredito que o sexo é um assunto profundamente social. E prazer sexual é algo que todos deveriam ter acesso. Sem preconceitos, nem limites.

"Tem que incentivar a cultura da promiscuidade. Torca de casais, casais múltiplos.

"Reconhecer o desejo como o principal motor para uma sociedade melhor.
"Quando se deseja alguém, normalmente, não quer que lhe aconteça nada de mal. Você se solidariza com ele. A não ser que seja rejeitado, é claro."

"Ponto de vista feminino, político e de direita."


...

Lembrando que, alguns políticos brasileiros já estão nesse nível de evolução!!
Precisamos de uma candidata dessa.

Ah, não esqueça, "relaxa e goza", pois o Ministro da Saúde Adverte:
“Manter relações sexuais é indicado pelo menos cinco vezes por semana”.
“Não é brincadeira, é sério, fazer atividade física regular significa também fazer sexo, com proteção sempre, é claro.”






Cores...
Muitas cores...





Anne Barreto
06/06/2010

quarta-feira, 2 de junho de 2010

(in)Tolerante...

Foto: Tácio Pimenta


Se tem algo que realmente não consigo tolerar, é a intolerância!!
Incrível como esta normalmente, pelo que tenho percebida, é exercida justamente por aqueles que se dizem pacientes e tolerantes, mas que na verdade não aceitam críticas de quem quer que seja quando voltadas à sua figura/imagem/ação/atitude/opinião.

Isso realmente me deixa com os nervos à flor da pele...
Acho que está acontecendo um momento meta-intolerante agora!
Melhor parar por aqui...


Anne Barreto
02/06/10

terça-feira, 1 de junho de 2010

Insone...



Quem me dera ao menos que minhas noites de insônia (as quais há muito não tinha, e das quais nem um pouco sentia falta) fossem produtivas...

Mas nessa última, o único produto que me restou foi uma "bela" dor nas costas!

Se ao menos eu tivesse conseguido pensar em algo diferente, mas eu só conseguia pensar fervorosamente em dormir, dormir, dormir, e dormir... Ainda assim, só o fiz já na hora de acordar... ponto pra ela!

Espero que não voltes por tão cedo... nem mais tarde!


A não ser que tenha alguém para dividir esse momento insone comigo...
Oh, Morfeu! Por onde andarás?!?!
=/




Anne Barreto
01/06/10

Poema 

Insónia

Não durmo, nem espero dormir.
Nem na morte espero dormir.

Espera-me uma insónia da largura dos astros,
E um bocejo inútil do comprimento do mundo.

Não durmo; não posso ler quando acordo de noite,
Não posso escrever quando acordo de noite,
Não posso pensar quando acordo de noite —
Meu Deus, nem posso sonhar quando acordo de noite!

Ah, o ópio de ser outra pessoa qualquer!

Não durmo, jazo, cadáver acordado, sentindo,
E o meu sentimento é um pensamento vazio.
Passam por mim, transtornadas, coisas que me sucederam
— Todas aquelas de que me arrependo e me culpo;
Passam por mim, transtornadas, coisas que me não sucederam
— Todas aquelas de que me arrependo e me culpo;
Passam por mim, transtornadas, coisas que não são nada,
E até dessas me arrependo, me culpo, e não durmo.

Não tenho força para ter energia para acender um cigarro.
Fito a parede fronteira do quarto como se fosse o universo.
Lá fora há o silêncio dessa coisa toda.
Um grande silêncio apavorante noutra ocasião qualquer,
Noutra ocasião qualquer em que eu pudesse sentir.

Estou escrevendo versos realmente simpáticos —
Versos a dizer que não tenho nada que dizer,
Versos a teimar em dizer isso,
Versos, versos, versos, versos, versos...
Tantos versos...
E a verdade toda, e a vida toda fora deles e de mim!

Tenho sono, não durmo, sinto e não sei em que sentir.
Sou uma sensação sem pessoa correspondente,
Uma abstracção de autoconsciência sem de quê,
Salvo o necessário para sentir consciência,
Salvo — sei lá salvo o quê...

Não durmo. Não durmo. Não durmo.
Que grande sono em toda a cabeça e em cima dos olhos e na alma!
Que grande sono em tudo excepto no poder dormir!

Ó madrugada, tardas tanto... Vem...
Vem, inutilmente,
Trazer-me outro dia igual a este, a ser seguido por outra noite igual a esta...
Vem trazer-me a alegria dessa esperança triste,
Porque sempre és alegre, e sempre trazes esperança,
Segundo a velha literatura das sensações.

Vem, traz a esperança, vem, traz a esperança.
O meu cansaço entra pelo colchão dentro.
Doem-me as costas de não estar deitado de lado.
Se estivesse deitado de lado doíam-me as costas de estar deitado de lado.
Vem, madrugada, chega!

Que horas são? Não sei.
Não tenho energia para estender uma mão para o relógio,
Não tenho energia para nada, para mais nada...
Só para estes versos, escritos no dia seguinte.
Sim, escritos no dia seguinte.

Todos os versos são sempre escritos no dia seguinte.
Noite absoluta, sossego absoluto, lá fora.
Paz em toda a Natureza.
A Humanidade repousa e esquece as suas amarguras.
Exactamente.
A Humanidade esquece as suas alegrias e amarguras.
Costuma dizer-se isto.
A Humanidade esquece, sim, a Humanidade esquece,
Mas mesmo acordada a Humanidade esquece.
Exactamente. Mas não durmo.


[Álvaro de Campos, in "Poemas"
Heterônimo de Fernando Pessoa]