"Um universo inteiro cabe dentro de um grão de areia..."

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Mosaico Particular de Imperfeição...


Não podia deixar de postar esse texto aqui.
O melhor da semana.
Indicação de meu papi para mim!!
=)




"Eu não sirvo de exemplo para nada, mas, se você quer saber se isso é
possível, me ofereço como piloto de testes.


Sou a Miss Imperfeita, muito prazer. Uma imperfeita que faz tudo o que
precisa fazer, como boa profissional, mãe e mulher que também sou: trabalho
todos os dias, ganho minha grana, vou ao supermercado três vezes por semana, 
decido o cardápio das refeições, levo os filhos no colégio e busco, almoço
com eles, estudo com eles, telefono para minha mãe todas as noites, procuro
minhas amigas, namoro, viajo, vou ao cinema, pago minhas contas, respondo a
toneladas de e-mails, faço revisões no dentista, mamografia, caminho meia
hora diariamente, compro flores para casa, providencio os consertos
domésticos, participo de eventos e reuniões ligados à minha profissão e
ainda faço escova toda semana - e as unhas!

E, entre uma coisa e outra, leio livros. Portanto, sou ocupada, mas não uma
workaholic.

Por mais disciplinada e responsável que eu seja, aprendi duas coisinhas que
operam milagres.

Primeiro: a dizer NÃO.

Segundo: a não sentir um pingo de culpa por dizer NÃO.

Culpa por nada, aliás. Existe a Coca Zero, o Fome Zero, o Recruta Zero. Pois
inclua na sua lista a Culpa Zero.

Quando você nasceu, nenhum profeta adentrou a sala da maternidade e
lhe apontou o dedo dizendo que a partir daquele momento você seria modelo
para os outros.

Seu pai e sua mãe, acredite, não tiveram essa expectativa: tudo o
que desejaram é que você não chorasse muito durante as madrugadas e
mamasse direitinho.

Você não é Nossa Senhora. Você é, humildemente, uma mulher. E, se não
aprender a delegar, a priorizar e a se divertir, bye-bye vida interessante. Porque vida interessante não é ter a agenda lotada, não é ser sempre politicamente correta, não é topar qualquer projeto por dinheiro, não
é atender a todos e criar para si a falsa impressão de ser indispensável.
É ter tempo. Tempo para fazer nada. Tempo para fazer tudo.

Tempo para dançar sozinha na sala.

Tempo para bisbilhotar uma loja de discos.

Tempo para sumir dois dias com seu amor. Três dias. Cinco dias!

Tempo para uma massagem.

Tempo para ver a novela.

Tempo para receber aquela sua amiga que é consultora de produtos de beleza.

Tempo para fazer um trabalho voluntário.

Tempo para procurar um abajur novo para seu quarto.

Tempo para conhecer outras pessoas. Voltar a estudar. Para engravidar.

Tempo para escrever um livro que você nem sabe se um dia será editado.

Tempo, principalmente, para descobrir que você pode ser perfeitamente
organizada e profissional sem deixar de existir.

Porque nossa existência não é contabilizada por um relógio de ponto ou pela
quantidade de memorandos virtuais que atolam nossa caixa postal.

Existir, a que será que se destina? Destina-se a ter o tempo a favor, e não
contra.

A mulher moderna anda muito antiga. Acredita que, se não for super, 
se não for mega, se não for uma executiva ISO 9000, não será bem avaliada. Está tentando provar não-sei-o-quê para não-sei-quem. Precisa respeitar o
mosaico de si mesma, privilegiar cada pedacinho de si. Se o trabalho é um
pedação de sua vida, ótimo! Nada é mais elegante charmoso e inteligente do
que ser independente. Mulher que se sustenta fica muito mais sexy e muito
mais livre para ir e vir. Desde que lembre de separar alguns bons momentos
da semana para usufruir essa independência, senão é escravidão, a mesma que
nos mantinha trancafiadas em casa, espiando a vida pela janela.

Desacelerar tem um custo. Talvez seja preciso esquecer a bolsa Prada, o
hotel decorado pelo Philippe Starck e o batom da M.A.C.

Mas, se você precisa vender a alma ao diabo para ter tudo
isso, francamente, está precisando rever seus valores.

E descobrir que uma bolsa de palha, uma pousadinha rústica à
beira-mar e o rosto lavado (ok, esqueça o rosto lavado) podem ser prazeres cinco estrelas e nos dar uma nova perspectiva sobre o que é, afinal, uma vida interessante".


Texto de Martha Medeiros

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